Prêmio Urban Gallery - Milão Parte 3

19:08 Amanda Henriques 0 Comments

O outro lado de Milão

Na segunda-feira, fiquei dedicada à visita a Rojo Artspace, um dos locais que abrigam os projetos da Galeria Rojo, que participou do projeto Urban Gallery. Dia chuvoso, mas que guardava surpresas que dificilmente eu teria a oportunidade de conhecer em uma visita casual e turística à Milão se não fosse pelo compromisso especial com o pessoal da Rojo.
Quando chequei o endereço da Galeria achei estranho. O local era bem afastado do Centro e aquilo me deixou intrigada. Mas o fato é que acabei conhecendo a história de um lugar muito interessante de Milão, chamado Via Tortona, próximo à bagunça da Estação Porta Genova.



Em 1983, o diretor de arte da Vogue Italiana, Flávio Lucchini e o fotógrafo Fabrizio Ferri abriram estúdios de fotografia na Zona Tortona causando o estranhamento de várias pessoas. A vizinhança era afastada do Centro e eles foram chamados de loucos, pois muitos duvidavam que a indústria fashion fosse capaz de absorver aquele local.

Estavam erradas. Hoje a Via Tortona é uma das principais zonas criativas de Milão e atrai designers, fotógrafos e empresas. Possui diversos estúdios, galerias e espaços alternativos que se tornam uma verdadeira extensão das principais feiras e semanas de exposição da cidade.


No período em que visitei Via Tortona, seus espaços de arte estavam focados na exibição das novidades de design na indústria moveleira. As ruas estreitas com casas antigas ganhavam exibições de itens hi-tech, com design arrojado e inovações para decoração de interiores. O contraste era muito interessante e muita gente circulava pelo local.

No Rojo ArtSpace, a empresa Cleaf apresentava novidades em revestimentos. A proposta era trazer a moda para o design de interiores com padrões e texturas modernas e criativas.
A ideia desenvolvida pela arquiteta e design Anna Barbara, trabalha com superfícies numa demonstração onde a forma pode se adaptar a todos os desejos. Revestimentos são manuseados como "roupas a vestir corpos".




Zona Tortura?
Milão tem as bases da sua existência fincadas no capitalismo, no consumo. Tudo fica mais explícito quando acessórios têm seus preços acima de quatro casas decimais de euro e o mercado de luxo se torna gerador das referências mundiais sobre o lugar. O cenário está montado para a contestação sobre as diversas conseqüências da indústria milanesa.

Via Tortona também é espaço para reflexão. Manifestações sobre impactos ambientais, sobre a cultura do consumo e inclusão digital aconteciam simultaneamente à semana de design.



Nas fotos, intervenções urbanas espontâneas e irreverentes e uma ação sobre os impactos da atividade industrial na poluição do ar, chamava a atenção na passarela da Estação Porta Genova. As pessoas que passavam eram convidadas a participar enchendo bexigas. 

Em uma rua transversal à Via Tortona, uma verdadeira lanchonete ao ar livre, a Mangiari Di Strada, servia focaccias, paninis, vinhos e outros aperitivos típicos da Itália. E o que isso tem a ver com contestação? O diferencial desta lanchonete era o compromisso com alimentos naturais em todas as etapas de produção. Comer o seu lanchinho da tarde se tornava um verdadeiro compromisso com o planeta e com a sua saúde.


No cartaz: 5 bons motivos para comer "bio" - 1. não gostar de edulcorantes, conservantes, corantes, aditivos e químicas sintéticas / 2. gostar de sabores autênticos / 3. saber que ao escolher comprar e comer minha refeição me comprometo e contribuo com a proteção do planeta / 4. ajudo homens e mulheres que trabalham na agricultura em harmonia com a natureza / 5. apoio criações de animais que vivem livres como na natureza. (em tradução livre)

E essa foi a minha temporada em Milão, a cidade da moda e do luxo, mas também da arte e da contestação. Obrigada à Brookfield, Galeria Rojo e Remix Social Ideas por essa oportunidade única. :)



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